
Um filho é uma parte arrancada de você andando pelo mundo afora.
Dentro de você é uma promessa, um mistério, um invasor a te tirar de ti mesma.
Pequenino você o olha cheio de orgulho, esperança e medo.
Chora com suas dores, ri com suas bobas coisas e brincadeiras. Ri de seus medos e de suas ousadias.
Te repleta de tudo.
Te inunda de doçura e gozo.
Vai crescendo e toda a montanha russa de sentimentos continua interminável.
A cada sucesso ou fracasso seu você oscila entre o céu e o inferno.
Nunca mais os pés na terra.
Nunca mais a doce e diabólica solidão.
Nunca mais a unidade.
Nunca mais a inteireza.
Você reza, almadiçoa, lamenta, e regozija.
Ele vai abrindo espaços, conquistando horizontes.
Deixando coisas e inseguranças para trás.
Vai se tornando uma pessoa independente.
Sai de casa.
Cai no mundo.
Conhece outros lugares.
E já é uma parte tua que não podes mais incorporar.
E a cada vez que o encontras sentes a dor da separação.
E cada vez que ele parte é tua alma que vai arrancada de ti, alçando novos voos.
E novamente sentes no estômago a contratura do parto.
O arrepio do despreendimento.
E o coração se inunda do sangue em estertoroso refluxo.
Na sístole da dor.
E num sorriso dás-lhe um beijo e dizes: Vai!
Que te amo assim.
Longe e dentro de mim.