domingo, 30 de março de 2008

Inverno pausa

Na beira da calçada
Na alameda
Entre todas as sêcas, de surpresa
Uma árvore rosa, toda florida.

De repente, sem mais nem aquela!

A vida é assim.
Sem hora nem tempo.
Vira primavera a qualquer momento.
Mesmo no meio do inverno.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Concha

De algum lugar saía aquela mão que puxando seu braço e brotando dele próprio, o levava mais e mais ao fundo.
Fundo do quê? - era a pergunta.
Permanecia sem resposta.
A letargia consumindo, ou melhor, apossando cada fibra muscular.
Os pensamentos, mais e mais devagar,
Vagando silenciosamente no negro estar.
Distantes mais e mais...
Sepulcro. Sepulcral.
A cada gota de sangue passando lentamente a crossa da aorta,
pingando infindavelmente,
mantendo a miserável vida.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Querer verbo intransigente

Em minhas entranhas, quero você dentro de mim. Teso!
Em minha cabeça, quero você perto de mim. Lúcido.
Em meu coração quero você leve, livre, solto, teu, tesão...
Teu tesão, independente da minha paixão
Acende um fogo e queima minha paz.
Arde em labaredas sinuosas
Insinuando-se em minhas artérias pudendas que
Sem pudor algum, pulsam teu nome e escorrem minha seiva de encontro ao teu Amor!
Teu cheiro me invade sempre depois.

Dentro do Grande Sertão - Verêdas

Um triste...
Um triste tão triste dentro de mim.
Lendo assim a tristeza da saga alheia
Lembro a minha tristeza
Minhas faltas,
Minha certeza:
- Crescer é ser sozinho
Sem só ser! -
Há que aprender... e muito!
Viver só dentro do mundo.
Viver só dentro de mim.
A mim achar e a minha companhia ter!


1993

Puno

Sê mulher!
Inteira!
Do direito,
Do avesso.
Virando mesmo
o mundo de cabeça para baixo.
Se cair,
olha dentro do sonho não dormido
que ensinou o caminho
da cidade perdida,
na cordilheira dentro de ti mesma.
Sempre!
Respira fundo e voa sem mêdo
nunca,
de ser, que se é, Feliz!

1994.

Condição mulher

As mulheres são engraçadas.
Pelo menos algumas, como eu mesma.
Tudo o que queremos é uma vida de romance e poesia.
Com flores nas datas e fora delas.
Com bombons bonitos e, se possível, uma jóia de vez em quando.
Claro, sem esquecer nosso reconhecimento e realização profissionais.
Então vemos loucos filmes de amor, paixão e sofrimento, e queremos imitá-los em nossas boas vidinhas.
E sofremos, sofremos, sofremos.
Eis a nossa escolha. Loucas que somos. Trágicas e dramáticas.
Como madames Bovary. Histéricas e insatisfeitas com tudo que não seja a pungência do anseio de ter sempre só o que não temos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Manhã

Andando pelo parque ela observava ao redor e pensava em sua vida.
A temperatura estava amena, um daqueles dias de inverno em que a primavera parece querer se fazer lembrar.
O ar tinha o perfume suave da vida que se anima com o calor inesperado e ameça brotar cheia de alegria.
O céu tingia-se de sobre-tons de rosa ao dourado, que iam se desvanecendo até chegar ao azul infinito no alto da abóboda, onde as nuvens não alcançavam.
O sol se esparramava por detrás da encosta verde, acariciando as árvores e indo mergulhar nas águas do lago, naquele dia plácidas como um espelho a espera de Narciso.
Como era belo aquele lugar, ela pensou. Como amava tudo aquilo!
Era o momento mais suave do seu dia.
Nunca abria mão de sua caminhada diária e do que ela representava - momentos únicos de encontro consigo mesma.

Diagnose

O sangue que corre em minhas veias ferve minhas entranhas.
Uma inquietação primária sacode minhas artérias e reboliça meu coração.
Procuro em não sei quês, a causa de meus nervos.
Disfarço e dissimulo a falta que bem sei.
Engano-me propositadamente e chamo nomes errados.
Não há rostos, nem corpos... a ausência é minha.
O desconforto é interno.
Fico com ele, diluo-me em minha própria dor sem chaga.
E sigo comigo.
Ansiando

1995