quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Ronda





Vegetara até aquele dia.
Até aquele inusitado momento em que sem nenhuma razão, resolvera clicar naquele simbolozinho Barrigudo que encontrara na tela.
Um mundo se abriu.
Desde então, passava as noites passeando nos mais diversos blogs.
Um dia encontrou um especial.
Tão especial como qualquer outro.
Mas de uma estranha maneira, tinha sempre a impressão que o autor falava dela.
Não com ela.
Não tocava sua alma.
Não inundava seus olhos com lindas imagens.
Falava dela como se a conhecesse e a acompanhasse no seu triste perambular vegetativo.
Nos breves textos, quase poéticos, contava toda a sua história sem graça.
Desde o dia em que nascera, não desejada nem recebida.
Sua infância solitária.
Sua adolescência insípida e míope.
Sua maturidade prematura e inconsistente.
Sua incapacidade de tornar-se mulher perante um homem.
Sua inépcia para estar no mundo.
E de alguma forma, na forma como ele contava, parecia diferente.
Era ela, tinha certeza. Falava dela. Mas parecia interessante, concreta.
Ali, adquiria sombras e contornos.
Sua vida ganhava traço.
Parecia até humana.
Não importava quanto perambulasse, embriagando-se em blogs de fotografias, poesias, músicas....
No final da ronda terminava ali.
Só ali se encontrava.
Ali lavava o rosto e penteava-se.
Era seu espelho.
Despia sua transparente inexistência e trajava seu avatar.
Ali vestia-se para enfrentar o sono e o seu dia acordado de viver.




Imagem Picasa - Esperanza>Piezas de puzzle - Jigsaw pieces

26 comentários:

Terráqueo disse...

Genial. Você se supera sempre.

Parabéns,

Terráqueo

Silvestre Gavinha disse...

Obrigadissima.
Tô esperando o teu desenvolvimento para comentarmos.
Tenho minha opinião sobre o meu texto, claro.
Mas isto é para ser um exercício. Lembra?
Então discutimos.
Grande beijo
Marie

Carlos Eduardo da Maia disse...

Eu falei que os mitos se complementam. Esse texto - s.m.j. -- tem muito a ver com aquele do príncipe que você colocou no mínimo ajuste. Muito bom.

Marta disse...

a do rei!

obrigada por esse momento de identificação.

Janaina Amado disse...

Vim do Minimo Ajuste. Tenho achado muito interessantes seus textos, entre poesia e prosa, com frases bruscas, que me parecem às vezes pequenos tijolos. Que moradias, quais templos (des)constroem?

Silvestre Gavinha disse...

Marta e Janaina,
sejam muito bem vindas. Obrigada pela gentileza.
Marie

Karênina Michelle disse...

Sempre nota 1000!!!!

Lucia Alfaya disse...

Obrigada pela visita e pelas palavras gentis. Estou, praticamente, estreando no mundo blog e tenho me perdido, espontânea e prazerosamente, por esse labirinto infinito de idéias, sons, palavras e pessoas que há apenas alguns minutos eu não sabia da existência e de repente começam a fazer parte do meu próprio mundo. Estou gostando!
Seus textos são maravilhosos, e As Pontes de Madison é um dos filmes que estão na minha estante dos inesquecíveis, lindo, sensível, de emocionar paralelepípedo.

Bípede Falante disse...

Marie, você sempre tão inspirada e tão inspiradora!

Sergio Storino disse...

Marie,
Começo de mês.
Gostaria de postar no meu blog o texto "Braços", que você publicou em novembro. Peço a devida autorização. Também gostaria de postar a foto que acompanha o texto. Mas o que é exatamente aquela foto? O que representa?
Beijo,
Storino

Silvestre Gavinha disse...

Sergio,
Estás totalmente autorizado. Texto e foto são teus.
Porque os dois são meus.
A foto é um erro. E representa um equívoco, todo o equívoco que originou o texto.

Estava acompanhando minha amiga, que eu botei para correr, em sua primeira Maratona.
Lá pelo quilômetro 20, resolvi ultrapassá-la para fotografá-la na passagem da meia-maratona.
Aconteceu um deslize do pneu da bike no meio-fio, originando im tranco no guidon, que deslocou meu braço esquerdo(defeito que tenho de fabricação) ao luxar o braço perdi o equilíbrio e caí da bike.
Ajudada, levantei, coloquei o braço de volta e continuei a acompanhá-la nos próximos 22,195m e mais 3h.
Esta foto aconteceu lá pelo km 34 e foi o resultado de uma mão insegura por um braço incerto, dolorido e cansado. É um pedaço do caminho desfocado, quando o iPhone escorregou na minha mão e bateu a foto enquanto se autodesligava.
Achei que foto e texto casavam muito bem.

Depois da explicação toda, se ainda quiseres, como já disse, todo teus, foto e texto.
Um abraço.

Sergio Storino disse...

Marie,
Pronto! Como diz uma amiga minha: "macumba feita". :) Seu texto é o mais novo habitante do meu blog. Tomei uma certa liberdade em relação à foto, dando nome e autor. Não vai brigar comigo, vai?
De resto, agradeço: pelo texto, pelos comentários generosos em meus posts e por estar seguindo o meu blog (é uma honra pra mim, saiba).
Beijo,
Storino

TARDE disse...

vestir, despir, enfrentar... afinal o que fazemos nós, além de esperar um dia conseguir ir além do espelho?

Karênina Michelle disse...

Queremos maissssss! Kd?????? rs

Bípede Falante disse...

Marie, menina escorregadia, por onde você anda??

Sergio Storino disse...

Marie,
Qual a próxima maratona pogramada? :)
Beijo,
Storino

Mariana Fernandes Lixa disse...

Marie querida... vc como sempre maestral nas suas colocações!!
Um grande beijo
Mariana

Terráqueo disse...

Marie, volte. Seus leitores precisam dos seu textos inteligentes e da sua presença amiga.

Beijos,

Terráqueo

elizete disse...

Meu Deus, como minha amiga esta famosa.
lindo lindo este texto.
bjs
Elizete

San disse...

alma gémea virtual?
olá Marie
long time no see...

Carla Maria Forlin disse...

Tem um selo para seu blog!
Veja no http://exposicoesveladas.blogspot.com/

beijos!!

aluisio martinns disse...

você se encontrou em algures e alhures me achei aqui, nesse espelho que me inverte e me revela o quanto ainda não sou.
lindas palavras

Bípede Falante disse...

toc toc!
Tem alguém aí???

Juliana Vermelho Martins disse...

Saudade, saudade, saudade!!!
Beijos!

Karênina Michelle disse...

Estamos sentindo sua falta!!!!

bjos

Karênina Michelle disse...

Volteeeeeeeeeeeeeeeee!