sexta-feira, 27 de março de 2009

Deslize


Acordou como se tivesse deitado na sexta feira e apagado o final de semana.
Não pela quantidade de sono dormido.
Pela nulidade de tudo.
A manhã, cinza, recepcionou-a, fria.
A emoção não chegou aos poros do dia.
O dia não coadunou com a ausência de sinais.
Nem o sol, quando atravessou a pesada cortina da vida, trouxe-lhe algum calor.
Nenhum doce afago encostou ser ser.
Como um robô destemperado, saculejou as vértebras e as juntas para fora do leito, duma maciez hipócrita e mentirosa.
Procurou em vão, suas conexões.
Todas partidas.
A fuga generalizada dos sentidos de dentro e de fora.
O chão não a sustenta.
Paira irrevogável no intervalo da personagem.
Engole em seco o gosto mofado dos verões e primaveras perdidos.
Anseia pelo mar.
Pela areia fria e molhada lhe envolvendo os pés, devolvendo seu andar ao ritmo de marés pontuais.

Foto: Gold Cost-Austrália por André Ambrosio

9 comentários:

Luminata disse...

Cool pic! :)

Luminata

Ana Paula disse...

Marie, tou te esperando aqui mês que vem pra gente molhar os pés.

beijooooo

Georgio Rios disse...

Ai, eu fico aqui longe, bem longe com minhas saudades do mar...Lindo Marie,

gloria disse...

teu poema é flecha ligeira nos pontos que condensam os signos crispados dos fortes e intensos sentimentos. uma linguagem que mesmo fluida, escorrida é construída com o talento dos artífices que cuidam e adornam seus escritos de beleza e do traço de virtude,bjs

Karla Santos disse...

Foto linda, Marie!
beijo

Juliana Vermelho Martins disse...

Quarta-feira teremos muito o que conversar!

j. monge disse...

felizmente as marés são pontuais, para nos acordarem da pontual astenia.
adorei o teu texto.

beijo!

Batom e poesias disse...

Eu gostaria tanto de ter escrito esse texto-poema.

É tão "eu", tão meu...

Obrigado por expressar por mim o que nem eu mesma sabia que sentia.

Adorei.
Bjs
Rossana

Unknown disse...

Marie, seu nome, né?
Pois é. O Perfeito é sobrenome mesmo, não egocentrismo.
Embora, com a escrita, eu o seja um pouco. (Minha relação com livros é diferente de todo o resto. Sempre que pego um, não controlo o impulso de colocar meu nome, rabiscá-lo, torná-lo propriedade privada. Estranho...)

Gostei muito dos seus textos! Muito imagéticos. Essa imagem do gancho nos prendendo à cama pelo ombro...

Fora que também minha consciência vive se atrasando comigo.

Obrigado pela visita no submundo.

Você conhece a Austrália?