
Acordou como se tivesse deitado na sexta feira e apagado o final de semana.
Não pela quantidade de sono dormido.
Pela nulidade de tudo.
A manhã, cinza, recepcionou-a, fria.
A emoção não chegou aos poros do dia.
O dia não coadunou com a ausência de sinais.
Nem o sol, quando atravessou a pesada cortina da vida, trouxe-lhe algum calor.
Nenhum doce afago encostou ser ser.
Como um robô destemperado, saculejou as vértebras e as juntas para fora do leito, duma maciez hipócrita e mentirosa.
Procurou em vão, suas conexões.
Todas partidas.
A fuga generalizada dos sentidos de dentro e de fora.
O chão não a sustenta.
Paira irrevogável no intervalo da personagem.
Engole em seco o gosto mofado dos verões e primaveras perdidos.
Anseia pelo mar.
Pela areia fria e molhada lhe envolvendo os pés, devolvendo seu andar ao ritmo de marés pontuais.
Foto: Gold Cost-Austrália por André Ambrosio