segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Vivi



Do outro lado da fronteira, passada a Catarata, a vida que fervilha é de uma outra qualidade e espécie.
Dói. Se espreme na multidão. Se espreme para viçar no meio da balbúrdia e do caos.
Os pássaros trinam os apitos dos guardas, as buzinas são outras aves nervosas em arritmias espasmódicas.
Os homens, esses grasnam suas mercadorias baratas num preço de esmola.
As lojas são tristes. Sujas as ruas, que se precipitam em outras sem certeza de seus caminhos.
As mercadorias empilhadas por cima das pessoas, dos balcões, das vitrines, vão sendo arrastadas em grandes sacolas.
Em ombros, bicicletas, carros e ônibus, vão se escoando lentamente na interminável fila.
O ar é denso, quente, não serve para respirar.
É parado, não serve para trafegar.
Os pulmões entorpecem. O coração quer gritar. Quer parar. Corre então para fugir à tortura asfixiante do universo falso das lojas.
Não há já, escapatória.
O rio passa indiferente.
Sua queda é inexorável e bela. Seu troar aqui não é ouvido.
As tristes canções dos bizarros seres que aqui se transportam, transformam o local numa dicotomia que agoniza.
Do outro lado da ponte, o lado de cá, o nosso, as coisas tendem a melhorar.
Para serem vistas.
Paga-se mais caro o ar puro que ali se tenta, sem pudor, usurpar aos pássaros.
As aves não são de arribação, as pessoas são.
"Quero chorar, não tenho lágrimas". O sol sequestrou-as devolvendo a beleza às cataratas.
Correr nem é preciso nem muito menos valioso.
Correr é delicioso mergulho no coração do bosque rumo à queda d'água.
Seus olhos, Iguaçu, não me guardam na memória.
O coração estertora ainda a lembrança.
Voltar é a única coisa a fazer.
Três meses depois, nascer e festejar as lágrimas brotadas do arco-íris que emoldurava a queda.
A água segue sempre a sua forma. Initerrupta.
Inunda o ser.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marie,
Você me fez compreender que precisei ir até o outro lado das Cataratas para ver melhor o lado de cá. Como sempre, nessa jornada, a amizade me guiou e me protegeu.
Fui ao encontro da serenidade das águas, mesmo envoltas em turbilhão, e trouxe um pouco dela comigo – agora entendi.
Que ela fique pertinho de mim assim como os amigos verdadeiros que descobri.
Nada que eu escreva aqui não será repetitivo: lindo, lindo, lindo!!!
Obrigada,
Vivi