Era 13 de junho de 2008.
Finalzinho de tarde, o sol já se abaixando por detrás dos prédios, mal tocava os chorões da beira do canal.
Sua luz dourada afagava de leve os ramos pêndulos.
Não fazia exatamente frio, como já há muitos anos.
Estávamos indo comprar os últimos ascebípes para a festinha do meu aniversário.
Falávamos. Como sempre que estamos juntas. Falávamos.
Como é bom fazer isso com algumas pessoas.
"Interlocutores válidos", não são todos. São raros. São poucos.
Sandra É.
De repente a cena. Irrompeu autoritária.
Silenciamos.
Quase rezamos.
Quase choramos.
Ficou em nossa retina.
Não sabemos a história. Não sabemos aonde ia.
A moça cega, levando um bebê ao colo, embrulhado em uma manta quase fina, caminhava pelo gramado à beira do canal do rio, que passa lá em baixo. Ladeando os chorões que balançavam seus ramos a impulsiná-la.
Não sei como, firme e decidida.
À beira do rio e à beira da estrada.
Os carros impacientes à luz do fim do dia.
Indiferentes as vidas que margeiam. Com seu alvoroço de sons e pressa.
Quase paramos.
Tudo.
Passamos.
Com o nó amarrado na garganta.
Com orgulho por ela.
Com pena de nós.
Foi um forte presente. Quase imperceptível.
Como um sôco.
Como uma porta batendo.
Como um raio isolado numa tempestade de verão.
Hoje, com o dia ainda cinza. Antes do sol se decidir se ficar ou partir.
Para me acordar eu li
LUZ
Nunca foi casada,
Nem vai de mãos dadas.
Não conheceu beijo,
Nem talvez desejo.
Do ato só lembra
O sopro na orelha...
Ao filho carrega,
Aquecido, a cega...
Do livro: Recordações de andar exausto
de Mayrant Gallo
Movendo meu mundo
Há 2 semanas
9 comentários:
Oi Menina!
Obrigada pela visita!
Realmente esse negócio de blogs vicia num tanto que você nem imagina... heheheheh
Têm pessoas maravilhosas aqui.
Vou dar uma passeada pelo seu jardim, só agora não, que estou com sono(heheheheh), e volto para comentar mais ok?
Beijins com felicidades:*
Oi, Marie, obrigado por gostar deste poema e divulgá-lo aqui. Gostei muito do seu texto: ótima mistura de poesia e prosa, e com um quê de cinema, com excelente movimentação e imagens. O tipo de texto que aprecio, meio beat. Congratulações! Abraço, M.
Sonia, por favor, sinta-se em casa minha querida. Também vou passear mais pelos seus lados.
Mayrant, não gostei "deste" poema. Já te disse, o livro todo é o máximo. E cada vez que o leio descubro coisas novas, mesmo abrindo-o assim, a esmo.
Agora, ontem, este poema desencadeou essa memória. Achei fantástico. Parecia você descrevendo a cena, que continua em minha mente. Poderia ser bem a história real.
Agora seu comentário, deixou meu texto mais chique e eu cheia que nem balão.
Muito obrigada.
Marie
Marie, tens sido uma interlocutora válida, viu?
Um beijão
Meio clichê mais faço minhas as palavras de Mayrant, no que concerne ao seu texto.Também leio frequentimente o recordações e digo:É um grande livro, muita poesia...Um abraço e sinta-se em casa quando estiver em meu blog...
Lindo Marie, adorei.
Beijos
Bom, muito bom. Faço minhas as palavras de Georgio que fez dele as palavras de Mayrant.
Vi, gostei, segui.
¡adiós!
oi querida
bom te ver
grande abraço
yael
Claudinha, que saudades guria. Que bom que gostasses.
Ricardo, muito obrigada. Bem vindo e sinta-se muito à vontade.
Yael querida, foi muito bom nos vermos assim também.
Beijinhos a todos.
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