Abriu os olhos de repente e tornou a fechá-los.
Não, não era dia de se acordar assim, de súbito.
Respirou devagar e profundamente e deixou o sonho dominar-lhe a mente e o corpo outra vez. Ainda podia sentir a vibração em cada músculo... Aos poucos foi deixando o despertar acontecer e a sensação afastar-se. Olhou através do voal do cortinado e da janela aberta. Era cedo ainda e a manhã já se fazia morna. A sombra da parede vizinha só disfarçava um pouco, dando uma ilusão de frescor no breve corredor. A terra exalava seu aroma doce e seco, próprio do verão ali.A janela da parede vizinha, a do sotão, permanecia fechada. Como alguém podia ficar lá com tudo fechado??? O calor aumentava dentro e fora do quarto, dentro e fora do corpo...
Deixou-se ficar um pouco mais, semi-enroscada nos lençóis úmidos. Que preguiça! E aquela vibração que teimava em prevalecer na cabeça, no coração, nas pernas, na cama, no quarto... e até na bruma do ar lá fora!!
Fora mesmo um sonho?
Levantando lentamente, tentou conectar as idéias, o sonho com a realidade. Lembrou o chopp gelado deliciando sua garganta e a impressão à entrada daquele homem, que cumprimentava a todos os seus grandes e velhos amigos ali presentes mas que ela nunca havia visto antes. Ele veio sentar-se a seu lado. Olhou-a demoradamente como se fosse uma predra exótica ou um animal raro, fazendo-a sentir-se...nua?
Logo conversavam animadamente. Todos queriam ouvir as estórias que ele tinha para contar. Ele falava de mil coisas, lugares, pessoas, fatos interessantes. Aquele homem era um poço! E ela bebia - daquela água encantada e do chopp. Olhavam-se muito, direta ou disfarçadamente. Os olhos dele eram de um marrom profundo e penetrante. Seu rosto coberto de barba e mistério. Dos cachos de seus cabelos emanava um perfume de países distantes. Era alegre. Seu riso contagiante. Bem falante, inebriava a todos.
Ela pegou um cigarro de alguém e tentou se esconder um pouco atrás da pequena cortina de fumaça não tragada. Inútil! O sorriso dele brilhava e seu olhar alcançava dentro dela. O chopp começou a acabar rápido demais e sua sede aumentava. O calor piorou. O ar do ambiente parecia não conter um mínimo aceitável de oxigênio.
Ele pegou em sua mão e convidou-a para andar na praia. A brisa do mar refrescou seu corpo e afagou seus cabelos. As mãos dele também. Ela sentia que o mundo poderia continuar girando indefinidamente.
Dançaram a canção das ondas e beijaram-se. a língua dele era quente,suas mãos ávidas e gentis, seu corpo ágil, perfumado. Ele era todo exigente. Seus corpos, juntos, seguiam a melodia da maré, vivenciavam a harmonia do cosmo. Entregavam-se um ao outro no esforço crescente da fusão total. E a dança se repetia. Novos passos, novos toques, novos universos. Que nada tivesse fim! Que tudo pudesse acabar naquele instante.
Como chegara em casa depois?
Ah! Ele a trouxera embalando pelas ruas. Vieram brincando com os cachorros, correndo com os gatos, pulando muros e cercas, cortando caminhos que ela conhecia desde criança.
Na porta da casa, depois do último dos beijos, ele disse um Tchau casual e riu da coincidência de serem vizinhos. Entrou na casa ao lado, debaixo de seu olhar pasmado, rindo sempre e dizendo: até amanhã!
Seu corpo ardia. Suor com areia, com sal, com desejo, com satisfação.
A água do chuveiro frio foi sua última carícia.
Molhada deitou-se para continuar a sonhar.
1996
Não, não era dia de se acordar assim, de súbito.
Respirou devagar e profundamente e deixou o sonho dominar-lhe a mente e o corpo outra vez. Ainda podia sentir a vibração em cada músculo... Aos poucos foi deixando o despertar acontecer e a sensação afastar-se. Olhou através do voal do cortinado e da janela aberta. Era cedo ainda e a manhã já se fazia morna. A sombra da parede vizinha só disfarçava um pouco, dando uma ilusão de frescor no breve corredor. A terra exalava seu aroma doce e seco, próprio do verão ali.A janela da parede vizinha, a do sotão, permanecia fechada. Como alguém podia ficar lá com tudo fechado??? O calor aumentava dentro e fora do quarto, dentro e fora do corpo...
Deixou-se ficar um pouco mais, semi-enroscada nos lençóis úmidos. Que preguiça! E aquela vibração que teimava em prevalecer na cabeça, no coração, nas pernas, na cama, no quarto... e até na bruma do ar lá fora!!
Fora mesmo um sonho?
Levantando lentamente, tentou conectar as idéias, o sonho com a realidade. Lembrou o chopp gelado deliciando sua garganta e a impressão à entrada daquele homem, que cumprimentava a todos os seus grandes e velhos amigos ali presentes mas que ela nunca havia visto antes. Ele veio sentar-se a seu lado. Olhou-a demoradamente como se fosse uma predra exótica ou um animal raro, fazendo-a sentir-se...nua?
Logo conversavam animadamente. Todos queriam ouvir as estórias que ele tinha para contar. Ele falava de mil coisas, lugares, pessoas, fatos interessantes. Aquele homem era um poço! E ela bebia - daquela água encantada e do chopp. Olhavam-se muito, direta ou disfarçadamente. Os olhos dele eram de um marrom profundo e penetrante. Seu rosto coberto de barba e mistério. Dos cachos de seus cabelos emanava um perfume de países distantes. Era alegre. Seu riso contagiante. Bem falante, inebriava a todos.
Ela pegou um cigarro de alguém e tentou se esconder um pouco atrás da pequena cortina de fumaça não tragada. Inútil! O sorriso dele brilhava e seu olhar alcançava dentro dela. O chopp começou a acabar rápido demais e sua sede aumentava. O calor piorou. O ar do ambiente parecia não conter um mínimo aceitável de oxigênio.
Ele pegou em sua mão e convidou-a para andar na praia. A brisa do mar refrescou seu corpo e afagou seus cabelos. As mãos dele também. Ela sentia que o mundo poderia continuar girando indefinidamente.
Dançaram a canção das ondas e beijaram-se. a língua dele era quente,suas mãos ávidas e gentis, seu corpo ágil, perfumado. Ele era todo exigente. Seus corpos, juntos, seguiam a melodia da maré, vivenciavam a harmonia do cosmo. Entregavam-se um ao outro no esforço crescente da fusão total. E a dança se repetia. Novos passos, novos toques, novos universos. Que nada tivesse fim! Que tudo pudesse acabar naquele instante.
Como chegara em casa depois?
Ah! Ele a trouxera embalando pelas ruas. Vieram brincando com os cachorros, correndo com os gatos, pulando muros e cercas, cortando caminhos que ela conhecia desde criança.
Na porta da casa, depois do último dos beijos, ele disse um Tchau casual e riu da coincidência de serem vizinhos. Entrou na casa ao lado, debaixo de seu olhar pasmado, rindo sempre e dizendo: até amanhã!
Seu corpo ardia. Suor com areia, com sal, com desejo, com satisfação.
A água do chuveiro frio foi sua última carícia.
Molhada deitou-se para continuar a sonhar.
1996
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