sábado, 28 de maio de 2011

Dança Nervosa

Presente de sexta feira de uma amiga com o seguinte texto:


Cara!
"Quer emagrecer?
Me pergunte como": veja o video.
Hahahahahahahaha!

Um beijo,
Tânia

Adoraria que só assistir já bastasse para emagrecer. Não consigo parar.Fiquei viciada.
Compartilho:
"Dancin' The Boogie" - by Silvan Zingg Boogie Woogie Piano ♫ ♪ ♫ Will & ...

Saudades dos velhos tempos!!!! ????

This is a pianist from Switzerland who plays some of the best Boogie
Woogie anywhere. He is so BIG over there, they hold a week-long Boogie
Woogie contest every year and all the best players in the world are
invited. In this video he is joined by 2 amazing dancers.... The
male dancer even has a haircut from the forties.

If you can take your eyes off her, the male dancer is super . . .
never moves his shoulders relative to what his feet and knees are
doing. And the top of his head stays at the same height no matter
what.

Turn up the volume, watch, and give it a listen! If you experience any
trouble tapping your foot to the beat, you had better hurry and
schedule an appointment with your physician.

FOR THOSE WHO DON'T REMEMBER, THIS IS HOW THE BOOGIE WOOGIE WAS DONE!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Amanhecer







A noite, depois do exercício do amor diário, foi breve e boa.
A madrugada chegou apressada para uns e adoravelmente receptiva para outros.
A reposta para a pergunta deletada veio com um sol precoce e tímido, comme d'habitude por estas paragens.
Na casa vazia a janela recebia a manhã.
A cidade do sol ausente, acordando inusitada. Timidamente ensolarada.
Invadindo de doce surpresa o espaço do não pronunciado.

Imagens: Curitiba da janela.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Caminhos

No passeio de volta aos meus blogs preferidos, seguindo as pistas da maravilhosa San, depois de passar pela Verde noite azul cheguei ao seu mais novo destino.
Um lugar interessante com um nome fortemente gravado Tintapermante.
Sem poder pedir licença, roubei-lhe emprestado este pedaço, do seu espaço.


Agradeço-te minha querida.
Você tem razão.

terça-feira, 24 de maio de 2011

As Duas Vidas de Sophia

Acordo super cedo para ir logo para a fisioterapia que depois tem academia e depois cirurgia e depois...
Como sempre ligo o computador e lá está o e-mail do Puto.
Olha quem eu vi por aqui.
Abro.
Três linhas com os endereços e telefones dele e uma foto.


Foi um susto. Um lindo susto.
Entendi tudo.
A Escolha de Sophia, minha gata herdada, que morreu há quase 3 anos, foi viver sua segunda vida na Austrália.
E como lhe fez bem.
Está mais solta, decidida. Parece até ter crescido. Está mais clean também.
Ligo para meu filho e pergunto:
_E?
_Pois é, diz ele. Cheguei ali para ver um apartamento e a vi do outro lado da rua.
Assim que ela me viu, atravessou num xispa e veio me cumprimentar. Ficou toda se esfregando por um pouquinho e depois foi embora.
_ Mas como assim? Você deixou? Com quem ela está morando? Tem outro dono? Tá casada? Tem gatinhos??? Anotou o endereço, pegou o telefone???
Ainda estou esperando as respostas.
Mas sei que minha amiga está lá. Como de se esperar, numa segunda vida, mais madura, mais up.
Australiana.

Foto by: André Ambrósio

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Doda




Bem devagarinho, como quem nada quizesse, ela foi passando
Propositadamente e um tanto descarada, esbarrando a se esfregar nas pernas dele.
Que, como de hábito, fez que nem estava.
Os outros todos chegaram e o maldito saiu com eles.
Ela ficou só.
Nem se deu por achada. Menos perdida.
Duas voltas, uns sussurros e foi atrás.
A algazarra permanecia, ele se tinha ido.
Onde andaria?
Ela voltou a estender-se no sofá.
Deixou o sol afagá-la.
A brisa a embalar o voal.
O perfume a passear pelas peças e ir cair no vão das tábuas do chão.
O tempo ia calmo por aquelas horas.
Interessou-se nos detalhes da mesinha.
Olhou demoradamente a correspondência amassada.
Claro que nem tentou ler.
Não valia o esforço.
Acabou por se entregar ao devaneio como é de sua natureza.
Adormeceu para acordar em seguida quando suas mãos passaram-lhe bruscamente sobre o corpo.
Ei-lo novamente seu.
Esticou-se toda.
Deu-se.

Imagem:By Agnieszka D. - Pela 751

quarta-feira, 18 de maio de 2011

PFM - SEI

SEI

Sei la mia via sei la mia malinconia
sei il mio digiuno sei la mia casa i passi miei
ma non sei tu non sei mia
Sei la nostalgia sei la spiaggia sei la luna
il temporale sei sei quest'ultima tua scena
sei il mio cane sei la mia cena in una mano
ma non sei tu nun sei mia
e non sei più solo una donna
Sei quelle sere che non ritorneranno più
la parola che è rimasta strozzata in me
sei longa quelle via che ci videro stretti noi
nelle mie fantasie nel ricordo più bella sei...
ma nn sei tu non sei mia
e non sei più solo una donna
Sei questa rabbia in me il mio pianto il mio dolore
sei la ferita che mai nessuno potrà guarire
sei la mia schiavitù la mia ombra il mio assassino
e chissà dove sei sei felice sei lontano
ma non sei tu non sei mia
e non sei più solo una donna
Sei tuto il tempo che arriverà
a ricordarmi che non ci sei
lo sguardo che sempre ritroverò
dentro gli occhi di chi verrà
sei il bisogno di te il bisogno di me
la gelosia che uccide
sei la storia degli altri sei
sei sempre... sempre... sempre... sempre tu...
...amore mio






Numa tradução muito insípida minha:

ÉS
és o meu caminho, és a minha tristeza
és o meu jejum minha casa os meus passos
mas não és, tu não és minha
És a saudade és a praia és a lua
és o temporal és esta última tua cena
és o meu cão e a minha comida em uma mão
mas não és tu não és minha
e não és mais só uma mulher
És aquelas noites que não voltarão jamais
a palavra que ficou despedaçada em mim
és aqueles longos caminhos que nos viram juntos
na minha fantasia na lembrança mais bela és
mas não és tu não és minha
e não és mais só uma mulher
És esta raiva em mim o meu pranto a minha dor
és a ferida que nunca ninguém poderá curar
és minha escravidão minha sombra meu assassino
e quem sabe onde estás, estás feliz estás longe
mas não és tu não és minha
é não és mais só uma mulher
És todo o tempo que há de vir
a me lembrar que não estás aqui
o olhar que sempre encontrarei
nos olhos de quem chegar
és a necessidade de ti a necessidade de mim
o ciúme que mata
és a história dos outros és
és sempre... sempre... sempre...sempre tu...
... o meu amor.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Digressão

Procrastinar não é preciso
Viver  o nescessário
A fuga em tocata de toda a precisa idéia de trabalho
Qualquer coisa mais ou menos distante do dever
Que se aloje mínimamente no poder
Já que não encontra abrigo no real querer
Rimar já não mais possível.

Namorar as idéias fugidias
Abandonar as verdades taxativas
Desprezar o conceito aceito e posto
Perseguir aqueles brotinhos germinados
Do pensamento errante novo e deslumbrante.


Imagens: Tania Bloomfield





domingo, 8 de maio de 2011

Feliz dia das Mães

PARA NÓS MÃES, PARA NOSSAS MÃES, PARA TODAS AS MÃES



Existe um cheiro que só as mulheres conhecem. É o que elas sentem quando estão enxugando seus bebês depois do banho. É preciso que não haja uma só pessoa por perto num raio de 200 metros para não haver interferência de qualquer ordem. Sem nenhuma presença estranha - nem mesmo a do pai -, mãe e filho poderão dizer bobagens e rir de coisas que só eles vão entender. Depois do talco, a mãe vai botar o nariz no pescoço de sua cria e cheirar com todos os seus cinco sentidos. No princípio timidamente, mas cada vez mais forte, até quase arrebentar os pulmões de tanto amor. Na hora a gente não sabe, mas um dia vai saber: não existe nada igual a esse cheiro nem a esse momento, e nunca vai haver um melhor. Porque esse é o cheiro da vida.
(Danuza Leão)

Imagem:Agnieszka D. - Pe... 's Public Gallery.Picasa Web Albuns

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Presente e vida

Há mais ou menos um ano atrás....


Coisas boas e ruins acontecem na vida e na profissão.
Algumas passam desapercebidas, outras marcam de forma positiva, outras ainda de forma negativa.
Algumas nos bloqueiam, acorrentam a alma, nos fazem girar a cabeça e o coração, duvidar de tudo e principalmente de nós mesmos e de nossas escolhas e caminhos.
E outras nos premiam e impulsionam, revivem vontades....

Recebi de uma paciente e foi um presente tão bonito que resolvi compartilhar.

Um novo caminho, um novo começo, uma nova vida.

Um retornar eterno. Um reencontro.

Para os meus amigos, que apesar da minha ausência reiterada, não me esqueceram, não desistiram de mim o mesmo tanto que eu mesma.
Um doce relato.




Ô abre alas que eu quero passar...

“Navegar é preciso, viver não é preciso” Fernando Pessoa, inspirado no ditado de navegadores portugueses.




Quando recebi de sua mãe um envelope, com timbre de um laboratório, já vivíamos a expectativa da gravidez, e precisei de poucos segundos, confuso entre os +10 -30, para saber que teria um filho. E este foi o primeiro dia em que pensei no seu nascimento.

Durante 40 semanas pensei em você.

Chegou fevereiro e com ele uma bateria de escola de samba no estômago e a expectativa apoteótica da felicidade.

Como um bebê da marca “humano” é esperado entre 38 a 40 semanas, a nossa médica sentenciou:

- Se esse garotinho não nascer até amanhã teremos que fazer o parto induzido.

Começava a folia !!!, e todas as escolas de samba do Rio de Janeiro entraram sopetão na Av. Candido de Abreu!

 Parênteses um:

 Na era da ciência médica, da TV de led, do playstation 3 (se é que isso vai existir quando você puder ler este relato) sua mãe queria muito que seu parto fosse de forma natural. Sempre apoiei e confiei nas decisões de sua mãe (ela sempre escolheu pratos mais gostosos que os meus nos restaurantes), era o momento de vocês dois e ela saberia o que fazer.

Com este cenário, fomos atrás de uma médica com experiência neste assunto (a que deu a sentença acima citada), a Dra Mariane, e requisitamos a ajuda de uma doula, a querida Juraci. Quero que saiba que estas duas mulheres têm muito mérito pelo sucesso do nosso bloco.

Fim do parênteses.

Assim, dia 18/02/2010, depois da consulta, sua mãe ficou tristonha, pois queria que você viesse ao mundo de forma tranqüila, sem que tivéssemos que ajudá-lo. Tentei acalmá-la (você verá que não é fácil), dizendo que o importante era que você nascesse com segurança e saúde. Não adiantou muito. E então fomos a um shopping center fazer compras (você verá que isso funciona) para acalmar a situação.

11:00 horas da noite, depois de um passeio pela livraria do shopping, algumas dores!

Dormimos um pouco.

00:00 horas, recebo um beijo e felicitações pelo meu aniversário.

03:00 horas, são contrações mesmo! Os carros alegóricos começam a se perfilar.

04:00 horas, telefonei para a doula, que nos acalmou, era o começo das contrações, ela iria colocar a fantasia e em algumas hora estaria com a gente.

Parênteses 2:

Você deve imaginar como estávamos felizes com as contrações, sua mãe a todo tempo te chamava, dizia seu nome, eu achava aquilo lindo e fiquei bem feliz por você decidir atender a sua mãe e decidir sair de abre alas.

Fim do parenteses.

08:00 horas, a Juraci já estava com a gente, e fomos até a maternidade para os primeiros exames.

Sua mãe estava em trabalho de parto e fomos mandados para o quarto.

As horas passaram extremamente rápidas, eu sempre buscando ajudar sua mãe e tentando me ocupar com as coisas práticas do parto (comprar água, comida, assinar papéis, reclamar de algo), e claro abraçar muito sua mãe, chorar muito com ela, e dar todo o meu carinho naquele momento em que é tudo o que a gente precisa.

11:30 horas, a Dra. Mariane chega no quarto, examina sua mãe e sentencia:

- Está tudo indo maravilhosamente bem, 5 de dilatação, precisamos de 10.

Bem, aqui é que o bloco começa realmente a empolgar, é dado o início do desfile, que ao contrário do burocrático carnaval da Sapucaí, não tem hora limite para atravessar a linha final.

Agora meu relato já fica sem a constatação da hora, estava sem relógio, e mesmo que estivesse não saberia guardá-las.

As dores começam a ficar cada vez mais fortes (as contrações boas, que fazem bebês nascer são as fortes, então não podíamos reclamar), andamos pelos corredores da maternidade, sua mãe fez exercícios para abrir a bacia, tomou banho de água quente para aliviar as dores, recebeu massagem, abraços, beijos, estávamos já muito envolvidos.

 Comecei a ver no rosto de sua mãe que o cansaço e as dores a levavam para um mundo distante. Neste momento fiquei muito emocionado, desesperado e feliz. Enfim, não sei bem ao certo como fiquei, mas este sentimento tresloucado foi me acompanhando até o fim.
O nascimento de um filho é uma coisa descomunal.

Por mais preparado e avisado que eu estivesse para ficar no quarto acompanhando e ajudando a sua mãe, foi naquele momento que eu quase desisti. Olhar a expressão dela de exaustão, de dor, parecendo que iria morrer, foi de me encher de medo, de pavor. Somando-se a isto, saber que você estava dentro dela e que você também estava envolto naquele turbilhão é de botar qualquer pai na lona.

Mas eu respirei fundo, saí um pouco do quarto, e não demorei a voltar, pois sabia que aquele momento era único, que você e sua mãe precisavam de mim.

Nossa existência talvez seja marcada por muito poucas emoções realmente envolventes (quando você vivenciá-las vai saber quando estiver frente à elas). O nascimento é um milagre (não um milagre religioso, mas um acontecimento que por seu tamanho nos mostra o quanto somos pequenos perto da maravilha, do extraordinário e da grandiosidade da vida). Na nossa pobre condição de seres humanos estamos relegados a um plano em que os milagres são escassos. Não nascemos de um corte da coxa de Zeus, não fomos trazidos por cegonhas nem silenciosamente abrimos como a flor. Somos filhos da dor.

 O que eu presenciei no quarto 212 naquele dia 19.02.2010, quando completava 30 anos, foi um milagre.
Não foi fácil para mim ajudar sua mãe, mas isto é insignificante perto do que sua mãe fez, você deve todos os dias de vida a ela, como eu devo à minha mãe.

Bem, vamos ao milagre.

A Dra. Mariane, sempre muito calma, examina sua mãe e sentencia:

- 9 de dilatação.

Aqui sua mãe já está completamente em transe, eu tentando fazer uma cara de confiança e olhando para a expressão nos rostos da médica e da doula, o que me acalmava de certa forma, pois via que aquilo por mais maluco que fosse estava dentro do roteiro. Lembro até que a Dra. Mariane, solidária à minha aflição, disse que estava tudo caminhando bem, que era aquilo mesmo, que minha avó, ela e a sua mãe e mais quem quisesse ter filhos teria que vivenciar aquele momento.

Eu nunca tinha visto sua mãe com tanta força, eu nunca tinha visto ninguém com tanta força. Mas era de cortar o coração e ao mesmo tempo um sentimento de inveja por sua mãe ter tanto amor por você e coragem.

Enfim, o bloco no auge de seu desfile, bateria no recuo, o surdão ao fundo e os repiques vibrando, a platéia toda exultante na sala de espera. E ali no chão do quarto, no nosso teatro, do nosso jeitinho, teríamos no colo o filho que tanto esperávamos.
A Dra. Sentenciou:

- Guilherme, sente-se encostado na parede e segure a Ana. Eu vou pegar os instrumentos (tesouras, toalhas etc).

E lá fui eu, sentei numa bola de pilates (aquelas grandes para fazer exercícios), sua mãe sentou na minha frente num banquinho próprio para parto. Ela deitou as costas no meu colo e entrelaçamos as mãos. Os gritos lancinantes de sua mãe ecoavam por toda maternidade. Eu tentava dar toda a minha força para ela, passar toda a minha energia. Olhava para o semblante da Dra. Mariane e via que o momento era tenso. Não sei ao certo quantas contrações sua mãe teve naquele momento em que passamos agachados ali, acho que umas 6 (das fortes, que fazem os bebês nascerem).

E nada do Benjamim nascer, e sua mãe gritava por você e eu mais do que alucinado olhava para todos os cantos, via expressões de tensão, de delírio, de ternura, e fixava a vista no teto branco pedindo a todas as forças ocultas e não ocultas que tirassem você dali e que tudo acabasse como a gente sonhava.

A Dra sentenciou:

- Força Ana, se ele não sair agora teremos que ir pra sala de cirurgia e fazer a cesária. Vamos Benjamim!

 Bem, sem problemas, cesárias servem para isto, mas obviamente que fiquei com aquela pontinha de frustração, principalmente por sua mãe, que em sua simples condição de ser humano lutou tanto para realizar o seu milagre.

Mas como num jogo que se vira aos 43 min do segundo tempo, a Dra. sentenciou, como um Deus ex machina:

- Ana faça toda a força que puder e não pare de fazer força.

Meu filho, e foi neste momento que, depois de 12 horas e 41 minutos, você, às 15:45 (segundo o relógio da Dra.) rompeu na passarela do samba.

“Oi abre-alas que eu quero passar... oi abre-alas que eu quero passar...”

Colocaram você nos braços de sua mãe que de tão cansada não agüentava os seus 2,815 kg, eu estava abraçado a vocês segurando por baixo dos braços de sua mãe a minha família.

Foi ali que nossa família começou, passando por aquelas 12 horas intermináveis de desfile, entramos por um lado da avenida juntos, e saímos mais unidos do que nunca, pois foi nesta experiência que conheci como sua mãe é maravilhosa, forte, corajosa, e acima de tudo humilde para aceitar toda a nossa humanidade e passar por esta vivência extraordinária que é ter um filho, realizar a vida, impulsionar o absurdo do mundo.
Foi ali que eu chorando emocionado descobri orgulhoso que você é um herói, que todos somos heróis ao nascer. E pensei em sua avó e em como ela deve ter se emocionado comigo no colo, como para ela deve ter sido o meu nascimento um acontecimento enorme. E imaginei seu avô sorrindo comigo no colo, e na mesma data 30 anos depois, sorrindo com você no colo.

Nunca terei como agradecer sua mãe por esta experiência. Guardarei sempre com cuidado o que dizem os poetas quando escrevem que o que interessa não é o começo ou o fim da travessia, o que vale é a viagem que fazemos ao navegar o rio. (mal citado aqui mas ok. Leia melhor nos autores portugueses que são peritos em atravessar oceanos).

É claro que queríamos atravessar o enorme rio e ter você a salvo. Por isso estávamos bem auxiliados por profissionais excelentes, e pela ciência médica, caso precisássemos. Mas mais do que isto, queríamos uma viagem, uma linda e enorme viagem. E tivemos.

Você não se lembrará de nada deste episódio, e este escrito de nada te adiantará, mas com absoluta certeza você trará em seu coração as marcas deste dia, o amor de sua mãe, a beleza da humanidade, as dificuldades da vida, e a importância da sua existência.

É isto meu filho. Que isto te ajude a perceber a maravilha da humanidade, e o incomensurável abismo que há entre nós e os Deuses do Olimpo. Somos fortes e frágeis, e todas as contradições do mundo estão em nós. Espero que você viva intensamente todas as tristezas, felicidades, angústias, vitórias e derrotas que a vida vai te proporcionar, pois é isto que nos faz o que somos, matéria de poesia e sonho, seres humanos.

Eu te amo, seu pai.


      Guilherme Shibata de Souza.

Imagem: Foto e obra Tania Bllomfield

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Confessionário

Já não há palavras.
O que dizer para você?

Comungas comigo tuas dores e alegrias e bebo ávida tuas histórias.
Mas tenho as mãos e a alma sujas de sangue das manhãs  dormidas e noites acordadas.


O teu olhar triste, me comove e enche de inveja.
Onde está o meu sentir para além de mim?
Onde está minha verdade?
Onde está o meu amor?
A minha humanidade?

Não me negues tua sentença.
Prisão perpétua a estudar manuscritos mortos.
Por favor, me dê condenação!


Imagem:http://picasaweb.google.com/lidia3007/Lato?feat=featured#5512381609467

RONDA II

Onde andará a alma da alma que me habita?

...

Perdida de si e do mundo vagueia as charnecas do seu ser.
Olha pelas janelas alheias deliciada.
Vê cores e perfumes. Vê vidas possíveis, distantes.
Tão esquecida.
Tão mergulhada na massaroca da sua.
Tão desgostosa de sua tormenta.
Tão sem fé nenhuma em si.
Tão míope.
Nem a metafísica dos chocolates serve de resgate.
O gosto doce-amargo do sangue da saga alheia embriaga mas escorre.
Nutrição fica no meio caminho do digestório.

A sêde secou na fonte.
O sono não apaziguou.

E continua comendo camarões estragados, cereais integrais e castanhas.
E enrolando-se na seda ainda não colhida.
A prisão do casulo nunca mais visitada.
Abandonada.
Eterna lagarta, contorcida e fedorenta.


Imagem da net a partir de uma imagem do blog Não Leia.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

News



Chegou meio bêbada de sono, de vinho e da vida
Recebeu de sua fonte de amor um endereço
Amou as imagens
Inveja, orgulho e amor
A força do sono imperou nos sentidos nocanteando a tentativa
Acordou decidida a compartilhar
Mesmo tarde
Antes nunca
.

Foto: News by André Ambrósio

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Ronda





Vegetara até aquele dia.
Até aquele inusitado momento em que sem nenhuma razão, resolvera clicar naquele simbolozinho Barrigudo que encontrara na tela.
Um mundo se abriu.
Desde então, passava as noites passeando nos mais diversos blogs.
Um dia encontrou um especial.
Tão especial como qualquer outro.
Mas de uma estranha maneira, tinha sempre a impressão que o autor falava dela.
Não com ela.
Não tocava sua alma.
Não inundava seus olhos com lindas imagens.
Falava dela como se a conhecesse e a acompanhasse no seu triste perambular vegetativo.
Nos breves textos, quase poéticos, contava toda a sua história sem graça.
Desde o dia em que nascera, não desejada nem recebida.
Sua infância solitária.
Sua adolescência insípida e míope.
Sua maturidade prematura e inconsistente.
Sua incapacidade de tornar-se mulher perante um homem.
Sua inépcia para estar no mundo.
E de alguma forma, na forma como ele contava, parecia diferente.
Era ela, tinha certeza. Falava dela. Mas parecia interessante, concreta.
Ali, adquiria sombras e contornos.
Sua vida ganhava traço.
Parecia até humana.
Não importava quanto perambulasse, embriagando-se em blogs de fotografias, poesias, músicas....
No final da ronda terminava ali.
Só ali se encontrava.
Ali lavava o rosto e penteava-se.
Era seu espelho.
Despia sua transparente inexistência e trajava seu avatar.
Ali vestia-se para enfrentar o sono e o seu dia acordado de viver.




Imagem Picasa - Esperanza>Piezas de puzzle - Jigsaw pieces

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sábado de Carnaval

Depois de encontrar Apolo no parque ela voltou para casa, cozinhou e comeu sua comida.
Assistiu pela enésima vez as PONTES DE MADISON que brindou com lágrimas nos olhos.
E bebeu vinho, por que, na maioria das vezes, a vida é nada.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Desejo


Só hoje, talvez não.
Mas hoje eu não quero mais o sangue nas mãos.
Não quero mais a vida pendurada na ponta do meu bisturí.
Não quero mais a doce delícia de brincar de Deus.
Não quero a responsabilidade, a vida, a felicidade.
Não quero saber nada.
Quero ver o amor nascer e nem pensar na dor.
Quero sentir a dor rasgar e não ter nada com isso.
Quero ser isenta.
Quero a absolvição prévia dos ingênuos e ignorantes.
Dos bem aventurados pobres de espírito.
Das criancinhas.
Quero cantar uma canção sem saber a letra.
Quero assobiar o poema e rir até me acabar, de rimar bunda com funda.
Quero a cacofonia me fazendo cócegas na barriga.
E o arrepio e medo só do mergulho.
Quero andar no escuro tateando os monstros e rir de seu desaparecimento quando encarar a escuridão.
Não quero a luz.
Quero o canto da sereia.
Me afogar e gostar.
E sumir na imensidão do mais fundo do mar.
Quero ser a onda lambendo a areia e me entranhando nela.
Quero ser o anjinho levando o mar numa conchinha para o buraquinho.
E acreditar que isso é só uma brincadeira e não um enigma para atomentar a alma do homem que pensa e pergunta.
Só hoje eu quero ser Amélia e fazer um pudim de claras, perfeito e doce.
E comê-lo inteirinho com molho de vinho ou de baunilha,  prendendo entre os dentes as lasquinhas de limão.
Quero brincar de palavras grudadas e repetir até a exaustão o mesmo som , até ele perder o sentido qualquer que tenha tido.
Quero sair andando sem me importar para onde e voltar só depois de muitas voltas.
Outra.
Outra eu.
Outra dor.
Outra vida.
Ainda que a mesma.
Só hoje não ser eu.
Olhar-me no espelho e encontrar o gato da Alice.
Só o sorriso.
E o rabo.


Imagem:Picasa Lino>miscelanea. Caracol presumido

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Intervalo

Sentou-se com o lap top ao lado, na diagonal.
Na sua frente o prato do dito almoço. De dieta, nem "rozcovo", comida russa como dizia a prima, era permitida.
Tinha misturado o que tinha. Algumas tiras tricolores de pimentão. Alguns tomatinhos. Queijo Cottage. 2 ovos estalados na Tefal. Sem gordura. O azeite forte com alho, gengibre e pimenta branca. Uma pitada de sal outra de pimenta preta.
Almoço frugal.
Às 15:30h.
Sacrifícios da idade. Do trabalho. Do tempo exíguo.
Comeu sem muita atenção.
Fixada na tela do computador.
Viajou rapidinho aos espaços mais próximos e voltou ao seu.
Alheiamente concentrada (paradoxo para ela sem nenhum mistério) tentou encontrar alguma coisa inteligente, interessante, engraçada, qualquer coisa para digitar.
Registrar.
Dar sinal de vida pensante.
Ao menos para si mesma.
Não conseguiu.
O tempo fugiu enquanto todas as idéias se atropelavam para tentar formar uma linha.
O telefone tocou.
A hora chegou.
Foi fazer o que tinha que ser feito.
Talvez mais tarde.
À noite.
Amanhã.

Imagem: Esperanza>Piezas de puzzle - Jigsaw pieces

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Apropriação in débita mas permitida e abusada.

Do comentário do meu comentário à Bípede, ligeiramente modificado:

Fora isso.          


Palavras são para serem repartidas e multiplicadas.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

MEGA SENA




O tempo todo a TV anunciando a última edição do ano da Mega Sena, o maior prêmio acumulado nos últimos não sei quantos anos.
O notíciário mostrando as filas imensas das pessoas nas casas lotéricas.
Todo mundo louco para fazer a sua fézinha.
Quem sabe dessa vez dava.
Quem sabe dessa vez o pé saía da lama e entrava o Ano Novo sambando de alegria e de sapato novo também.

Ela levantou-se de onde estava e desligou a TV.
Foi para o quarto sem falar com ninguém e nem dar bola para a reclamação dos que estavam em volta.
Ela não tinha jogado.
Nem nunca iria.

No quarto, sozinha, lembrou de quando também tinha esse sonho.
Ganhar na Mega Sena, mudar de vida.
Mesmo antes ela não jogava.
Nunca tinha tempo.
Trabalhava invariavelmente em, pelo menos, dois hospitais.
Num fazia plantão noturno, no esquema de 12/36h.
No outro, trabalhava todos os dias a partir do meio-dia, turno de 6h.
Uma manhã sim, uma não, tinha algum tempo para fazer as coisas da casa, ver como andavam as crianças, resolver problemas na escola, ver as roupas que usavam.

O marido, nem encontrava a maior parte do tempo.
Ultimamente sim. Desde que ele perdera novamente o emprego.
Mas nem valia a pena.
Já não tinham mais quase nada em comum.
Ele reclamava que ela estava sempre cansada e apressada.
Ela reclamava que ele, que agora tinha mais tempo, podia,  mas não ajudava em nada.
Só se acertavam em concluir que tudo estava difícil, que o dinheiro não dava. Que estava tudo mais apertado.

Decidiu então que mais uma vez, pediria para ser demitida do emprego noturno.
Jurou que seria a última vez.
Trabalhava há tanto tempo ali.
O Administrador e Presidente do hospital a conhecia desde menina.
Sabia o quanto ela valia o pequeno salário que recebia.
Daria valor. Não iria querer perdê-la.
Principalmente nos plantões dele que eram os mais movimentados.
Parece que trazia paciente de caminhão para operar.
Passava a noite inteira operando. Ninguém tinha sossego ou descanso.
Até ele mesmo ajudava a tirar paciente da mesa, a puxar maca, a buscar material e preparar as salas.
Ela nunca reclamava, sempre trabalhava de bom humor.

Mas os tempos estavam difíceis para todos e ele não queria fazer o acordo.
Ultimamente o ministério do trabalho andava de olho em tudo.
Se fizesse acordo com ela acabaria tendo que fazer com outras também.
Muita coisa estava em risco.
Mas ela precisava, ele sabia.
Acabou, a contragosto, concordando.

Ela pegou todo o dinheiro naquela manhã e antes de ir para o outro trabalho, foi em casa ver como distribuiria a pequena soma.
Antes tinha que passar no açougue e na venda pagar a conta atrasada, deixar a comida em casa para as mais velhas prepararem e tomar um banhozinho rápido.
O banho foi frio. Já tinham cortado a luz, também atrasada no pagamento.

Por sorte encontrou o marido quando já estava saindo. Deu-lhe as últimas cédulas para que pagasse tudo e mais o religamento.
Saiu com os bolsos vazios e a cabeça cheia de preocupação. Ia ter que se virar até chegar o pagamento do outro hospital.

Ele foi para o outro lado. Como tinha que pedir o religamento, ia pagar na lotérica próxima ao terminal da companhia de Luz. Matava dois coelhos.

Saiu da companhia ainda com um troquinho no bolso.
Reparou no cartaz da Mega. Tava acumulada novamente.
13 milhões. Ô numerozinho mais chamativo.
Até irritava.
Aposta mínima, um real e cincoenta centavos.
Nem olhou direito. Jogou os mesmos números de sempre. Um dia dava.
Ainda sobrou pra um copinho, que ninguém é de ferro.
E voltou para casa, que naquele dia não adiantava mais procurar emprego.

Ela continuou na sua rotina. Sem final de semana, sem descanso. Empurrando o aperto para o próximo mês.
Fazia o "samba do crioulo doido". Hoje pagava aqui, amanhã ali.
Se Deus quizesse o marido logo arranjaria outro emprego o que a deixaria mais aliviada por alguns meses.
Na segunda feira, chegou do plantão e foi logo dormir. Estava morta.
Domingo mais triste esses com lua-cheia. A semana já começa acabada. Não sobra ânimo.
Acordou logo depois do que pareciam minutos e já estava se arrumando para o outro trabalho.
O marido não apareceu.
Nem pra almoçar.
Será que tinha arrumado emprego??

Quando voltou à noite viu a casa toda iluminada. Uma balbúrdia.
O pequeno correu para seu pescoço de tão feliz.
O sonho dela tinha acontecido com o marido.
Ele tinha ganho sozinho.
13 MILHÕES!!!
Meu Deus!! Nem podia ser verdade.
E já tava todo mundo lá.
Todo mundo já sabia.
Ela não precisava mais trabalhar.
Ela ia virar madame.
Iam comprar carro, mudar de casa, trocar os piá de escola.
Ela podia ficar em casa cuidando dos filhos.
Ela não precisaria mais trabalhar nem sair.
Só para caminhar na ciclovia, fazer exercício. Consultar médico bacana.
Fazer plástica.
Recuperar tudo o que tinha perdido.
O tempo com a família.
A beleza. Os anos.
Se livrar de todos aqueles quilos a mais, de comida ruim mal comida.
Foi em seus empregos se despedir.
Agora só ia voltar ali como paciente. Já tinha falado com o Dr Fulano.
Ia fazer tudo junto. Tirar o útero, plastica de abdomen, redução de mama.
Contratar massagem, comprar as cintas.
Mudar o guarda roupa.
Jogar tudo fora.
Nova casa tudo novo.
Casa enorme, em rua de rico.

E o marido, de carro novo, desaparecia.
Contratou uma empregada e só vinha pra janta. Quando vinha.
O dia inteiro passava fora.
Perto, nem chegava. Mesmo porque ela tinha que se recuperar das cirurgias.
Passava os dias sozinha.
Todas as TVs estavam ocupadas passando os programas preferidos de cada filho.
Ela já tinha enjoado de todos os programas.
Nem sabia mexer direito nos controles.

Suas amigas nunca mais encontrava. Todas trabalhavam.
Mas a casa vivia cheia.
Sogra, parentes, gente que ela parecia nem conhecer.

No começo, depois das cirurgias, ficava muito no quarto.
Foi melhorando. Mas continuou lá.
Não tinha vontade de sair. Não se sentia bem em sua casa.
Aos poucos foi se interando do que acontecia.
O marido tinha outra mulher.
Mais nova que ela, claro.
Já estava com essa há muito tempo.  Antes de acertar a Sena.
Ela conhecia seus filhos e se dava bem com eles.
Se dava bem com a sogra.
Tinha uma casa igual ou maior que a dela.
Tinha um carro novo e sabia dirigir.
Ia a festas, frequentava. Tinha uma porção de amigos.

Quis reclamar com o marido que não fez muito caso.
Se ela quisesse, podia ir embora. Voltar para sua vidinha "sem graça" de só trabalhar.
Ele não queria isso. Achava que era justo que ela tivesse uma vida mais sossegada.
Mas se ela não quisesse, podia ir embora.
Ela era dona da vida dela.
Ele era dono do resto.
Os filhos podiam escolher.
Tinha certeza que ela podia realugar o barraco onde moraram.
E que ela conseguiria pagar o aluguel e viver tranquila com o salário que tinha antes.
Mas se aceitasse tudo o que já estava acertado, teria uma vida sem trabalho.
Ele não iria mandá-la embora.
Nem impedir que fosse.
Ficasse e seria conforme a lei do dinheiro dele.
Vida boa e farta. De mulher de bem. Cuidando dos filhos.
Com todo aquela casa só para aproveitar.

Ela tentou ligar para as ex-amigas. Queria se aconselhar.
Mas as coitadas tinham que trabalhar. Correr atrás do pão de cada dia.
Ela tava com a vida ganha. Elas não.
As "novas amigas" ela não conhecia.
A gente, depois que ganha tanto dinheiro assim, não tem mais amigos.
A gente até desconfia de todos.
As vizinhas ela não conhecia

Visitou alguns médicos.
Conhecidos seus.
Com alguns teve vergonha.
Com outros tentou se abrir.
Todos a aconselharam a procurar psicólogo, advogado, seus direitos.
Ela só queria a sua família. Aquela por quem tinha trabalhado tanto para manter.
Não podia tirar o pai cheio de dinheiro dos filhos.
Não podia tirar dele o direito de viver como quisesse.
Ela tinha sido boba.
Tinha sido cega.
Tinha pensado só em dinheiro.
Só em trabalhar.
Era justo que ele procurasse alguém que desse atenção que ele merecia.

O sonho virou uma gaiola dourada.
Ela um pássaro sem voz.
Dinheiro não lhe trouxe a felicidade.
Antes ele nunca tivesse jogado.
Ela nunca vai jogar.

O ouro é para os tolos.
Ela só queria a sua vida de volta.
Isso, a Mega Sena super acumulada nunca vai trazer.

Foto: ,

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

"A hora do encontro é também despedida"



Não fiz retrospectiva e nem tão pouco carta de intenções.
Fiz sim, alguns esboços de movimentos de mudança e iniciativa.
Termino o ano obrigada a me submeter a algumas "verdades" a meu próprio respeito.
Obrigada a operar o meu braço esquerdo a despeito da cirurgia do direito (há 8 anos) não ter sido exatamente um sucesso.
Sem ter conseguido ler os 50 livros do desafio da Confraria em que entrei. Devo ter iniciado um número próximo,  mas,  como sempre, sigo a lê-los todos juntos.
Não corri São Silvestre, nem nenhuma outra prova legal desde junho e minha  quase fratura de stress nas duas tíbias, e quase meu pior tempo de Maratona na do Rio de Janeiro.
Mas inicio 2010 cheia de esperança de encontrar e cumprir novos desafios.
Assumindo um novo Serviço.
Decidida a acabar com minha deficiência visual decorrente do excesso de anos vistos e vividos.
Inscrita num novo curso, numa Universidade em outra cidade.
Uma série de promessas...

Todas brilhando no horizonte desse Novo Ano, que nasce colorido e cheio de força de sorrisos e olhares desses lindos seres que povoam nossas vidas.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Um crime de presente

As lâmpadas estavam enfiadas formando  V cujo vértice encontrava-se em algum lugar no fundo do latão de lixo suspenso.
Somente chegando bem próximo foi que ela conseguiu ver que se tratava de quatro lâmpadas fluorescentes colocadas duas a duas.  De longe, no escuro, ela olhou e achou que pareciam pernas de alguém que tivesse maldosamente sido enfiado ali. Um manequim ou uma boneca.  O efeito era um pouco macabro e engraçado.
Lembrou do pedido de sugestões de como se livrar de um corpo fruto de assassinato, feito pelo novo amigo distante. Para um crime longe de perfeito, uma maneira inusitada.
Poderia funcionar.
Dependendo do tom que se quisesse dar à história.
E lembrou também, na continuidade, da receita antiga, de Clarice Lispector,  para se livrar das baratas de forma asséptica: servir-lhes uma mistura de partes iguais de açúcar e gesso. Ao entrar em contato com o líquido do sistema digestivo das pequenas bestas, a deliciosa refeição endurece e petrifica.  Mostrando " duas vantagens: alem de acabar com elas de forma limpa e indolor, transforma-as em pequeninas estatuetas que podem ser usadas na decoração. "
Claro que com um corpo humano não seria tão fácil assim. Pensou então outras alternativas.
Lembrou de um filme muito antigo, The Mystery of the Wax Museum de 1933,  onde o vilão submergia as vítimas num banho de parafina quente, depois as imortalizava como personagens universais, em seu Museu de Cêra.
Modernamente podia utilizar resina.  Ela já tinha inclusive lido sobre os passos básicos da plastinizaçāo, o método usado por aquele homenzinho maluco e polêmico, agora mundialmente famoso, na arte de conservaçāo de cadáveres humanos em prol da ciência e da arte.
Para jogar o corpo no lixo, parecendo um manequim velho, não precisaria nenhum refinamento do processo. Bastaria uma banheira de formol, seguida de acetona por uns dias e depois outra de resina e um varal forte o bastante.
Vistas de longe, no escuro, "as pernas" pareciam as de uma mulher magrinha, ou melhor, magérrima, de estatura média/baixa. Sabia até quem se encaixava direitinho no perfil. Aquela secretária antipática da tesouraria do hospital.  Faltava apenas um motivo melhor que o fato de ela ser enxerida, invejosa e implicante.
É. É isso.  Falta apenas um motivo interessante.
Pronto.
Com quase todos os ingredientes, já tem um projeto e a história de um crime.
Um enredo policial.
Uma  desculpa para começar o ano de uma maneira diferente.
Perpetrando um crime, absurdo, irreverente.
Com ambições literárias.






 Photo date: 1933 Lionel Atwill, Fay Wray, MYSTERY OF THE WAX MUSEUM, THE, Warner Bros., 1933, **I.V. - Image courtesy mptvimages.com



PS. Terráqueo um presente sempre atrai outro, não igual, mas recíproco. E você foi um presente de outro presente. Fomos "dados" pela Bípede. Como é delicioso esse nosso mundinho redondo numa volta ou outra. Isso nos mantem girando. Quando não, nada que um samovar de vinho, não resolva.