Vegetara até aquele dia.
Até aquele inusitado momento em que sem nenhuma razão, resolvera clicar naquele simbolozinho Barrigudo que encontrara na tela.
Um mundo se abriu.
Desde então, passava as noites passeando nos mais diversos blogs.
Um dia encontrou um especial.
Tão especial como qualquer outro.
Mas de uma estranha maneira, tinha sempre a impressão que o autor falava dela.
Não com ela.
Não tocava sua alma.
Não inundava seus olhos com lindas imagens.
Falava dela como se a conhecesse e a acompanhasse no seu triste perambular vegetativo.
Nos breves textos, quase poéticos, contava toda a sua história sem graça.
Desde o dia em que nascera, não desejada nem recebida.
Sua infância solitária.
Sua adolescência insípida e míope.
Sua maturidade prematura e inconsistente.
Sua incapacidade de tornar-se mulher perante um homem.
Sua inépcia para estar no mundo.
E de alguma forma, na forma como ele contava, parecia diferente.
Era ela, tinha certeza. Falava dela. Mas parecia interessante, concreta.
Ali, adquiria sombras e contornos.
Sua vida ganhava traço.
Parecia até humana.
Não importava quanto perambulasse, embriagando-se em blogs de fotografias, poesias, músicas....
No final da ronda terminava ali.
Só ali se encontrava.
Ali lavava o rosto e penteava-se.
Era seu espelho.
Despia sua transparente inexistência e trajava seu avatar.
Ali vestia-se para enfrentar o sono e o seu dia acordado de viver.
Imagem Picasa - Esperanza>Piezas de puzzle - Jigsaw pieces